VER PARA ALÉM DO OLHAR

QUO VADIS EUROPA?

Que fácil é falar do muro na fronteira entre os Estados Unidos e o México! Que fácil é falar do desesperode famílias inteiras que percorrem a América Central com destino aos Estados Unidos que lhes negam o acesso ao “El Dorado” norte-americano! Não há dia, em que os meios europeus de comunicação social não lhes dêem cobertura, não identifiquem o vilão e, assim, não sosseguem os espíritos e a consciência dos europeus, o pináculo das virtudes cívicas, dos direitos humanos, da inclusão social e da luta contra a pobreza.

Ontem, sexta-feira santa, o Papa Francisco, na via sacra no Coliseu de Roma, onde outrora a ausência de direitos civis ou a negação da liberdade à diferença, já se pagara com a morte, não falou do muro que separará os EUA do México. Referiu-se a uma fronteira mais fluida, composta por água – o Mar Mediterrâneo – pelo deserto – o Sahara – e por um intrincado regime jurídico europeu – o Acordo de Schengen.

O Papa foi a voz de um número não contabilizado de polulações africanas e da Síria e Afeganistão que pagam a redes ilegais de imigração, de tráfico de escravos, de mulheres e de crianças na esperança de encontrarem uma vida melhor, com paz, pão, saúde e habitação na Europa. Falou em nome daqueles que, de fome e de sede, já morreram de exaustão no deserto e daqueles que nas próximidades da “terra prometida” – a Europa, o tal “pináculo da perfeição” – morreram afogados devido às condições atmosféricas adversas e à falta de condições de navegabilidade e a sobrelotação das embarcações.

Afundamento de barco de refugiados

Durante os debates que conduziram ao Acto Único Europeu (1986) e posteriormente ao Tratado de Maastricht (1992), perante o receio expresso dos quatro cantos do mundo de que a Europa estava a construir uma “fortresse Europe”, não houve líder europeu que o negasse veementemente. Mas mudam-se os tempos, mudam-se os políticos, mudam-se as vontades… Quo vadis Europa?